Olá, como vai? Eu vou indo. E você, tudo bem?
Sinal Fechado é o nome da música de Paulinho da Viola, que começa com a frase que virou título desse post. Vou indo com ela linhas abaixo
Foto: Luís Tajes
Eu vou indo. Talvez seja a frase mais dita, mais ouvida dos últimos tempos. Às vezes, tem um complemento: “Estou viva. Tenho de agradecer”. Em frente.
Vou indo. Vamos indo. A muitos lugares. Opostos, contraditórios, às vezes distantes entre si. Escuros, profundos, cheirando a mofo, viscosos, habitados por criaturas estranhas. Lugares de novidade, de sol e arco-íris, fofos, generosos, grandes, verdes, do tamanho de muitos sonhos.
Nesse mapa-múndi-privado, as fronteiras são sutis - linhas finas, pontilhadas, cercas vivas esburacadas. Passa um boi, uma boiada, passa a gente inteirinha ou aos pedaços. Somos turistas nos lindos recantos e nos espaços sombrios. A natureza humana é também floresta. Exploremos nossos cantos.
Vamos indo, vindo, sendo, buscando, sentindo, sonhando, pensando, vivendo, morrendo. Levando uma vida no gerúndio. Sem ponto final. Sem ver a linha de chegada, o fim do túnel, a porta secreta que só abre naquele lapso de segundo para te levar a outra dimensão, talvez mais compreensível do que a de agora.
Me perguntam: “E você, como vai?” Tudo bem, digo.
Tudo bem com minha ansiedade, com minha angústia, com minhas vontades represadas. Tudo bem com meus planos adiados, minhas dores no corpo, minha cama revirada, minha revolta com esse Brasil governado e também habitado por genocidas.
Tudo bem com aquele pedaço de mim que chora no banho, que tem medo da morte de mais alguém querido, que flerta o tempo todo com a insegurança. Tá tudo bem, respondo. Todas as ervas daninhas muito bem alimentadas, obrigada. Elas têm fome e não falta substrato nesse aqui e agora um tanto apodrecido.
Aprendi a conviver bem e a transitar no meu mapa. Afinal, estou viva. Afinal, sou privilegiada. Afinal, não falta amor, nem teto, nem prato, nem família, nem saúde, nem amigos.
Quem haveria de querer saber o já sabido? Há chatice extrema na verdade. Há energia ruim na reclamação. Há exagero na ladainha. É tão melhor falar diferente. Então, tá tudo bem. Vamos lá.
Eu vou indo. Indo em busca de um sagrado feminino que existe em mim, uma força que resgata a intuição, o primitivo e o selvagem que me compõem. Indo com a esperança de cruzar a minha linha de chegada: a escrita frequente, fluente, criativa, pulsante e viva. Indo ao encontro da inspiração, essa danada fujona; da respiração, lenta e profunda. Indo com meu alter ego empreendedor fazer o sucesso do Gentil Café, meu negócio. Indo, talvez daqui a pouco, quem sabe, ao encontro do mar. Ah... que saudade do mar! Melhor dizer assim, não?
Tão melhor dizer o que agrada. Bom ouvir o que convém.
Não há desesperança em meu dizer. Mas a esperança não engole meias palavras. Ela mora do “apesar de...”, reside na verdade, no todo; resiste na completude, na inteireza. A minha esperança não precisa da inocência, carrega feliz a sua cruz. Incansável.
Vou indo com ela... Correndo pegar meu lugar no futuro, como diz a canção? Não. Diz também Paulinho da Viola: “Eu vou indo em busca de um sono tranquilo... Quem sabe?” Mais a minha cara, meu número. Mais meu real gritando. Mais o que pedem meu coração e meu corpo cansado do correr.
Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios... Nos perdoem a pressa, é alma dos nossos tempos, na verdade. Só andamos a cem. Fomos indo aos solavancos, numa corrida maluca e estranha para chegar em 2021. Chegamos. E aí, tudo bem? Tudo bem - e você? Vamos indo. Ainda. 2020 não ficou para trás. E eu trago aqui comigo coisas muito, muito importantes, vividas nele. Não o renego.
Coragem, amigos. É tudo o que a vida nos pede. Coragem para, quando abrir os olhos, conseguir enxergar o 2021 dos sonhos que tiveram para ele - eu confesso que não elegi os meus. Somos merecedores (muitos de nós, eu digo) de nossos planos, quaisquer que sejam. De pausas e silêncios; de encontros; de acertos; de pequenas revoluções cotidianas. De leveza, a minha busca constante. De atravessar a floresta densa e o deserto seco. De chegar.
Chegar em 2021 junto. Com seus amores, dilemas, fantasmas, esperanças. Com eles, vou indo. E você?
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