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Mundo, vasto mundo virtual: vem pra mim

Máquina de escrever Adler/Tippa 1. Foto e arte de Luís Tajes

Estava errada. Por muito tempo, tive quase aversão a experiências tecnológicas de todo tipo. Uma resistência pautada pela dificuldade. Não era fácil entender. Meu modo de ser é analógico ainda hoje, tenho certeza. E tentar compreender aquele universo parecia muito mais enfadonho do que desafiador. Sou do tempo em que a medida do sucesso profissional era quantos toques conseguia dar por minuto numa Olivetti. Aquele barulhinho até hoje soa para mim como uma poesia. Tenho uma Adler Tippa 1, que já foi do meu pai e eu me apossei, aguardando restauração. Foi nela que escrevi meus primeiros textos e matérias. Então vieram as redes sociais e, à medida que o meu mundinho de conhecidos passava a conhecer um mundão de desconhecidos, eu ia ficando mais assustada, mais isolada e mais estranha a todos os outros. Se eu tiver companhia nesse sentimento, se apresente, por favor.

Durante os anos de estrada profissional, é óbvio que tive de me dobrar. Gostei das possibilidades que vi e reconheci o quão a internet é definidora do tempo em que vivo. “Há sempre um copo de mar para um homem navegar”, disse-me o poeta Jorge de Lima, quando eu o li. Me apeguei a este pensamento para todo o sempre. Pois bem. No meu copo de mar cabe, há algum tempo, o Twitter e o Instagram. No Twitter, tudo chega mais rápido. É lá que me informo e sinto a repercussão imediata das notícias. Também adoro o humor que corre pelas redes e me chega através dos 140 toques. O Instagram é meu deleite. Posso passar horas correndo os dedos pelas fotos. Gosto essencialmente da fotografia de qualidade, mas adoro também a vida roteirizada de alguns amigos e não vou negar minha aproximação com o mundo das celebridades – respeito muito alguns perfis.

O Facebook sempre foi para mim a zona de arrebentação. Onda demais. Prefiro o mar calmo, ainda que profundo. Acompanhava aqui e ali pelo face criado em nome do meu finado cachorro Bono Blue, que tinha mais humor e menos temor da superficialidade da rede. Criamos, eu e meu marido, para acompanhar os filhos. Para eles, era inadmissível não estar onde todos estão. Para mim, era bem confortável ainda saber dos aniversários pelas anotações da agenda, me poupar do excesso de exposição e do desconforto de bloquear quem faz das redes um ringue, inclusive amigos. Deixei de ir a algumas festas por não ver convites e de rever amizades antigas por não ser, usando a linguagem googleana, “encontrável”. Perdi polêmicas. Cheguei atrasada nas discussões. Ainda assim, nunca, nunca tive vontade de experimentar... até hoje.

Sim, eu estou no Facebook, desde hoje. Mas você não vai me achar em forma de figura humana. Vai me achar já em novo alter ego. Não basta abrir a janela, o nome deste blog, é a página que criei. Não fiz a pedidos, mas cedi a argumentos. É mais fácil entrar no blog por esta janela virtual do que por vias de desktop. Fiz para alcançar mais leitores. Afinal, ninguém escreve blog sem a ambição de ser lido. E este pecado aí me pertence. Quero também que seja fácil comentar.

A minha página está no Facebook, mas quero deixar claro que não pertenço a ele. É para ser um meio de informação e disseminação, não um modo de vida, um jeito de ser. Conheço um monte de gente que nas redes sociais são irreconhecíveis para mim. Não que isso seja ruim ou decepcionante. Mas é estranho, né não?

Também entrei por um reconhecimento de que a tecnologia já sorri para mim. O touch vem me cativando aos poucos e devo isso aos smartphones, hoje de uma utilidade espetacular. Ao sair do emprego, mergulhei na web com vontade, como se pudesse recuperar tanto tempo perdido na intolerância.

Não apenas revi e me conectei a pessoas – conhecidas ou não – como descobri um mundo virtual interessante, que até então era vasto, porém imperfeito demais para alguém como eu, muito afeiçoada ao hábito de fazer e ler uma coisa de cada vez, a passar páginas lambendo os dedos.

Logo abri uma conta no LinkedIn. Gostei. Não para arrumar emprego, mas para ter acesso a uma rede onde se discute de fato temas pertinentes à profissão. Li muitos textos interessantes. Diversos links me levaram a livros e perfis que me abriram a mente. Encontrei gente do passado. Adorei saber por onde seguiram suas carreiras. Achei também solidariedade. Uma ex-estagiária brilhante, Fernanda, me procurou oferecendo de graça o seu produto para alavancar o meu. Veio a Brasília e me encontrou. Sua atitude me emocionou de verdade.

Creio que uma janela aberta leva a outras. Que paisagens se sucedem pelo caminho de cada um – no meu, é costume que elas sejam feitas de letras. Que é possível achar conteúdo de relevância na internet. Continuo achando que o Facebook nasce com o intuito de controlar você, mas agora ficou irresistível não tentar inverter esse jogo.

Deixo vocês com o poeta Jorge de Lima, que citei acima. Amo este poema:

Invenção de Orfeu – Jorge de Lima (1952) A ilha ninguém achou porque todos a sabíamos. Mesmo nos olhos havia Uma clara geografia. Mesmo nesse fim de mar qualquer ilha se encontrava, mesmo sem mar e sem fim, mesmo sem terra e sem mim Mesmo sem naus e sem rumos, mesmo sem vagas e areias, há sempre um copo de mar para um homem navegar. Nem achada e nem não vista nem descrita e nem viagem, há aventuras de partidas porém nunca acontecidas. Chegados nunca chegamos eu e a ilha movediça. Móvel terra, céu incerto, mundo jamais descoberto. Indícios de canibais, sinais do céu e sargaços, aqui um mundo escondido geme num búzio perdido. Rosa de ventos na testa, maré rasa, aljôfre, pérolas, domingos de pascoelas. E esse veleiro sem velas! Afinal: ilha de praias. Quereis outros achamentos além dessas ventanias tão tristes, tão alegrias?

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