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O que aprendi com o desemprego – Parte 2


TIVE DE SAIR DO ARMÁRIO

Você passou anos definindo um estilo, investigando seu corpo, buscando entre as tendências de moda as peças que lhe caem bem. Construiu um guarda-roupa compatível não apenas com o conforto ou a personalidade. Para quem passa a maior parte do tempo no trabalho, as roupas vestem o profissional que você é. Pois bem: sair do emprego é de certa forma também sair do armário.

Pode parecer dramático para alguns, mas o desemprego me deixou nua. Uma nudez estranha, atípica, de não reconhecimento. De repente, camisas e calças de alfaiataria, que eu repetia à exaustão, já não me cabiam. Os saltos, indispensáveis e amados, passaram a ser escolhas esporádicas. Não que de repente tenha passado a não gostar mais das minhas roupas, mas elas passaram a me desafiar. Hoje, olho o meu armário e ele me provoca reminiscências, lembranças de um tempo que não volta mais – ou pelo menos não tão cedo.

Minha rotina passou a ser caminhar no parque, ir ao supermercado, levar os meninos na escola, passar o dia no escritório de casa. É como se vestir todo dia para um casual day do trabalho - sabe a sexta-feira preguiçosa, o plantão de sapato baixo, a segunda de ressaca? Parece bobagem, mas é uma provocação, só mais uma dessa nova realidade. É como se 50 peças fossem reduzidas a cinco. Toda a minha atenção passou a se voltar para os moletons (só tenho dois velhotes), as leggings, os tricôs molinhos, as malhas, os vestidinhos de casa, os jeans.

Com a certeza absoluta de que passar o dia de pijama não era uma opção (embora eu peque nesse quesito de vez em quando) e trocar o guarda-roupa muito menos, vendi uma mala de roupas não usadas nunca, comprei um sapato baixo tipo mule, um tipo de gosto duvidoso mas apostei, e uma calça jeans rasgada, algo que nunca passou pela minha cabeça.

Quando papai me viu com a boyfriend desfiada, ofereceu: “Filha, tá precisando de um dinheiro para comprar uma calça?” Nem tanto, pai (rs). Também cortei o cabelo, apliquei botox e sigo buscando novas inspirações para usar as velhas roupas de um jeito novo. Alguma fashionista por aí para me dar umas dicas?

DE ONDE VEM ESSE DESEJO DE ECONOMIZAR?

Eu tinha um TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Desde muito pequena, não suportava lápis muito pequeno, nem aproveitava caderno usado, caneta sem tampa, borracha suja. Na fase adulta, segui provando que desperdício era o meu lema. Acumulei no trabalho um sem número de caderninhos iniciados e cheios de folha em branco. A cada ano, um novo caderno. Se fosse fazer uma série de reportagens, também queria anotar num lugar novo, totalmente em branco. No armário do meu banheiro, jazia tantos potes de cremes e condicionadores pela metade que nem me dava ao trabalho de contar. No fim do ano, pegava todos eles e dava para quem quisesse. Ou simplesmente descartava.

Não ter um salário a receber no próximo mês me levou a um admirável mundo novo: o do não desperdício. Tenho tido vontades estranhas, tipo espremer o tubo de pasta de dente até doer os dedos. Jurei de pé junto que usarei cada hidratante e cada batom até o finzinho. E que não comprarei mais nenhum até que o estoque de fato acabe.

Não vou dizer que uma pessoa consumista como eu tenha de repente virado a casaca. As vitrines me seduzem a tal ponto, que preciso manter distância razoável das minhas lojas preferidas. Não posso me arriscar. Difícil responder por mim. Desemprego é um rehab forçado nesse quesito. Mas posso garantir que mudanças muito simples levam a grandes economias.

Por aqui, os hábitos mais conscientes levaram a uma redução de 10% nas contas de luz e água. Com mais tempo em casa, a comida que estragava na geladeira ganhou gosto novo no jantar (devo isso ao marido; sou péssima na cozinha). No supermercado, tornei-me uma infiel. Troquei as lojas de bairro, ao lado de casa, pelo atacadão. A fé inabalável em algumas marcas foi desafiada pelo preço mais baixo de outras. Troquei e não me arrependi. De vez em quando, exagero e subo um degrau quando a baixa qualidade é tanta que gera prejuízo.

Mais do que o medo de falir financeiramente, o desemprego me abriu os olhos para os excessos. Repensar alguns hábitos, além de saudável para o bolso, provoca boas sensações. Sabe aquele desejo de contribuir para um mundo melhor? Consumir menos e melhor gera prazer sem culpa. Gostei disso.

ENTRE O CONTADOR E O COACH, ESCOLHA O CONTADOR

Se você sempre teve carteira assinada, como eu, sabe que contribuiu direitinho para o INSS. Se você é uma pessoa que adora estar em dia com suas contas, como eu, sabe que não dá para passar um mês inteiro sem contribuir para sua previdência. Mas vá lá no site do governo, vasculhe tudo e decida como vai pagar daí por diante. Depois, me conte como chegar às melhores conclusões. Eu, que tenho um bocado de afinidade com interpretação de texto, até agora não consegui.

Contribuinte facultativo? Autônomo? Até que três letrinhas piscam para você. MEI, MEI, MEI. Parece ser a solução de todos os seus problemas. Você paga um imposto baratinho, ganha um CNPJ para chamar de seu e fica em dia com a Previdência. Também pode emitir uma nota se conseguir um trabalho de freelancer ou comprar como empresa se decidir fazer marmitas para fora. Só que não. Não é assim simplesinho.

Contribuir como Microempreendedor Individual reserva seus direitos previdenciários, mas não conta para o tempo de aposentadoria. É preciso pagar um complemento. E não dá para ser pelo site. É preciso ir a uma agência, o que, como todos sabem, é uma saga. Lá você pode descobrir, por exemplo, que se tirou um MEI pode perder o seguro desemprego, mesmo que não tenha emitido nenhuma nota fiscal, nem ganhado nenhum dinheirinho. Tipo isso, tirou o MEI, pagou o Imposto, perde o outro benefício. Há um milhão de questionamentos sobre isso, basta olhar na internet. Não há consenso, mas essa é a regra.

Por isso, caso fique desempregado e tenha amor pelo dinheiro, caso seja uma pessoa que goste de pagar suas contas e ficar em dia com os impostos, procure um contador. Eu não fiz isso e me arrependi. Estou correndo atrás do prejuízo, ainda confusa.

Acertei, porém, em outra escolha. Recorri a um consultor financeiro para otimizar os recursos recebidos da minha indenização. Ele fez as contas que eu não saberia fazer e indicou as aplicações melhores. Mercado financeiro não é para amadores, é para coração valente. Vez em quando, eu tomo uns sustos. E, apesar dos potenciais prejuízos, continuo torcendo com todas as minhas forças pelo #foratemer. Perco dinheiro, mas não a esperança.

Sobre o coach... Deixei para depois; talvez para o nunca. Mas isso é assunto para outro post.

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