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O dia em que disse adeus


Foto de Luís Tajes de uma floreira vermelha numa janela. Debaixo dela, encostada na parede de pedra, um banco de bandeira vazio parede é

3 de abril de 2017. Foi numa segunda-feira, perto das 10h, que meti o dedão no send e lá se foi minha carta de despedida aos amigos do Correio Braziliense. Estava aos prantos, a cabeça latejava e continha em mim um turbilhão de sentimentos conflituosos. Meus 22 anos de história na redação do jornal, que há muito virara uma casa, chegaram ao fim.

Digamos que o desenlace foi o encontro da fome com a vontade de comer. Em palavras mais simples, minha saída era o caminho mais interessante para ambos. Não deixou de ser abrupto, arrebatador e libertador, tudo em igual proporção. Extenuada e aliviada, me vi sem chão, mas não sem possibilidades. Não é assim para todo mundo. Há quem saia sem dinheiro e também sem esperanças. Há quem viva esse momento com um plano B para chamar de A ou outro emprego engatilhado. Nenhum desses era meu caso.

Vivi e vivo essa nova realidade de forma muito particular, pelas condições que a envolvem. Com um pouco de tempo para pensar, reestruturar as ideias e incorporar uma nova persona – muito provavelmente jurídica. Mas também com a pressão dos dias e noites que se sucedem sem respostas prontas, nem fáceis. Os recursos são finitos; as dúvidas, parece que não. Paciência é a palavra do mantra.

Nunca soube o que faria quando saísse do jornal. Nada no jornalismo me parecia tão sedutor quanto a experiência já vivida. Não construí alternativas, nem pontes, confesso. Não estudei, me especializei, nem fiz networking. Mergulhei no emprego enquanto o tive, até o último segundo. Sigo sem certezas e sem arrependimentos. Mas com uma vontade intermitente. Eu, que sempre fui tão discreta em relação aos meus sentimentos, passei a querer compartilhar o meu processo. Entre o desemprego e uma nova ocupação, há uma gangorra de perdas e ganhos. Sensações, rotinas, buscas incessantes, ora de respostas, ora de sentidos.

Este blog é para compartilhar o que tenho aprendido nessa caminhada, que agora já soma 120 dias. Pensei que talvez fosse útil para quem vive um processo semelhante. Mas, no fundo, sei que é e será muito mais proveitoso para mim. Escrever acalenta a alma e ordena os pensamentos. Vou experimentar, espero ganhar leitores e rever amigos neste espaço. É claro que minha condição de desempregada pode mudar de uma hora para outra. Aí o foco muda, mas espero que o diálogo permaneça.

Ah! O título do blog... Tirei de uma poesia de Fernando Pessoa, só porque o amo e posso entendê-lo melhor com o tempo. E porque tem tudo a ver comigo e com o meu momento.

Segue trecho de Poemas Inconjuntos (1913-1915/Alberto Caeiro), em Ficções do Interlúdio:

“Não basta abrir a janela

Para ver os campos e os rios.

Não é bastante não ser cego

Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.

Há só cada um de nós, como uma cave.

Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,

Que nunca é o que se vê quando se abre a janela...”

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